quarta-feira, 1 de junho de 2011

à deusa Língua

A fala é ato de criação
é sopro de voz com uma intenção - e uma intensidade
que põe afora o timbre interior, cavernoso, do corpo, ossos vibram,
assim escutamos as entranhas do som que engole o sentido

desde jovens, as palavras são encorajadas a serem lançadas,
a boca mastiga as idéias e sintetiza a química do discurso,
desde a proclamação do Verbo, a comunidade comunica

e a cada língua o seu paladar, dito e feito
o feitiço das letras unidas e as enlaçadas sílabas
faz uma bruxaria com a força do diafragma
que busca através do ar um caminho ouvido até a outra fonte

o susto, a onomatopéia das reações involuntárias,
o arco-reflexo do sim agudo e do não sustenido,
em silêncio, senta-se à varanda o pensamento
para reverenciar o seu deus Vento,
em seu dentro mora o fora

a linguagem é chave que encontra e tece pontos-cruz
nos retalhos do entendimento, ata entre um ato e outro
um elo entre água e óleo, mistura arara e ouro,
o velho, o ovo, a Lira, a relva e o Touro


T.