Objeto magnético, secreto lugar de encontro de forças contrárias (...)
Convite à viagem; regresso à terra natal. Inspiração, respiração,
exercício muscular. Súplica ao vazio, diálogo com a ausência, é alimentada
pelo tédio, pela angústia e pelo desespero. Oração, litania, epifania,
presença. Exorcismo, conjuro, magia. Sublimação, compensação, condensação
do inconsciente. Expressão histórica de raças, nações, classes. Nega a
história, em seu seio resolvem-se todos os conflitos objetivos e o homem
adquire, afinal, a consciência de ser algo mais que passagem. Experiência,
sentimento, emoção, intuição, pensamento não-dirigido. Filha do acaso;
fruto do cálculo. Arte de falar em forma superior; linguagem primitiva.
Obediência às regras; criação de outras. Imitação dos antigos, cópia do
real, cópia de uma cópia da Idéia. Loucura, êxtase, logos. Regresso à
infância, coito, nostalgia do paraíso, do inferno, do limbo. Jogo, trabalho,
atividade ascética. Confissão. Experiência inata. Visão, música, símbolo.
Analogia: o poema é um caracol onde ressoa a música do mundo, e métricas
e rimas são apenas correspondências, ecos, da harmonia universal. Ensinamento,
moral, exemplo, revelação, dança, diálogo, monólogo. Voz do povo, língua
dos escolhidos, palavra do solitário. Pura e impura, sagrada e maldita,
popular e minoritária, coletiva e pessoal, nua e vestida, falada, pintada,
escrita, ostenta todas as faces, embora exista
quem afirme que não tem nenhuma: o poema é uma máscara que oculta o vazio,
bela prova da supérflua grandeza de toda obra humana!"
(Octavio Paz, O Arco e a Lira)
(Octavio Paz, O Arco e a Lira)