Ah, eu ouvi o chamado da açucena em campo aberto
Onde voa o grito;
Eu vi a fonte secar,
fui testemunho do horizonte diante do sol que nascia
naquela época de
raras pedras preciosas
naquela época de falsos brilhantes
e os pés de nem-tudo-que-reluz-é-ouro floriam
à sombra do comigo-ninguém-pode
ela disse “vem, vem pra encosta comigo,
só quem corre o perigo não corre de medo”
amanhã os cajueiros serão flor
e as nuvens acumuladas
contarão o fim da história e haverá chuva para todos
...”era uma vez, no fim da estrada, havia
uma porta só de entrada para o Templo do Tempo-Sem-Volta
Lá, quem adentra pode contemplar
(a saudade do futuro)
E provar momentos passados gota-a-gota
Quem medita na câmara de Jade do Templo-fora-do-tempo
Adentra um labirinto, um
Caminho aberto em-plena-rocha
que é o mapa esculpido em tamanho real
pelas escolhas feitas no caminho que tomou
na vida até agora.
O agora é árvore crescida, enraizada nas entranhas
cavernosas
da noite de inocência dos atos sem-querer-querendo
Alguém nasce ninguém, e cresce erva,
e luta com espinhos e se torna veneno
e enfim, flor. Nutre-se de sol até secar
Depois é após, é queda das folhas (Outono íntimo)
É o que será de nós quando não houver mais nós;
E não seremos mais... nem menos, nem tampouco muito...
Como seriam os encontros
Quando não houvesse mais eu, você;
Quando fôssemos apenas nós – encontro de águas, foz?
Sem forma, inconformados, sem tamanho nem dimensão,
e ao mesmo tempo abrangendo da atmosfera o espaço,
Luz que navega em
microscópico mar...
Imensidão tamanha seremos, o pensamento do infinito,
A voz do eixo,
De todos os centros,
o centro,
O som primeiro
A constelação-mãe
O constante e
sempiterno timbre
do carro-de-bois calmamente
subindo a Serra cósmica da sempreviva-terra-sideral
Céu olhou nos olhos de Terra
e se enamoraram...
sempre que Céu beija Terra, chove
Nenhum, não é outro
senão aquele mesmo que só ele é
e que ele não seria se fosse
algum outro
Todos, são inteirezas,
jardins regados ao orvalho d’ouro transmutado,
Onde cada folha é uma terra
desconhecida,
e cada ruflar de asas da
mariposa noite a dentro
é sussurro lançando segredos
ao vento
Lá, o arquirrefúgio
onde se fundem o Barro e o Mercúrio.
Aqui, o mergulho-nas-areias-do-tempo.
Onde nos movemos
inacabados, esboços de motivos sem razão,
Somos o por-que-não da
resposta astuta
e, às vezes, espaços
abertos na história
esperando com esperança
alguém para chamarmos de Destino.
O Talvez é música onde
a imaginação convida e o pensamento dança
Onde brotam mitos
e os velhos heróis
morrem.
Filho da Fonte, Fruto
dos Fatos,
Fenômeno acontecido do
auto da vida,
O pensamento é paisagem
verdejante
e tenebroso pântano;
Lá viceja a flora dos
sãos, mas também
Lá, as bestas devoram
com promessas e dentes de ilusão
Filho da Fonte,
Na hora mais escura da
noite
Abre espaço, abre um
caminho avante
Vai com o Vento- Leste
Anuncia aos quatro
cantos do mundo
O milagre do
Solnascente
E quando o céu descobrir
a terra,
desperta em pele-nova,
em plena Novaera na sua Casa-na-Copa-da-Árvore-da-Vida
Tiago Abreu.