segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Rosa-dos-ventos & Redemoinho


Biruta era um menino fora de órbita.
Desfrutava da natureza em seu bojo,
e as delícias da terra cedo abriram caminho
no tato e no paladar, nos seus olhos de ver o invisível...
... e a memória-de-além, sob a poeira do tempo,
nos retratos diluídos de eras antigas, trazia
de volta o cheiro da terra úmida de chuva...

As meninas de tranças rodopiavam no chão de terra batida
a cantar cirandas inesquecíveis nas manhãs de Primavera...
Meninos corriam pelos campos, livres veredas verdejantes,
Colhendo o mel bruto na fonte, cantando charadas ao vento

De onde vindes? Para onde ireis? – perguntou-lhes o Vento.
Nós viemos do ninho. Vamos buscar a terra bem-aventurada,
e lá aprender a voar com os pés no chão, e ver de olhos fechados;
E tu, Vento, de onde vens, para onde vais?

Venho dos Vales da Vida e estou indo para perto da lonjura
Sou o mensageiro dos grãos, dou força  e movimento às estações
Sou as ondas do sopro primitivo, antigo invocador da chuva
Moro entre as rodas d’água do mundo verde-marrom-azul
E quando chegar a Primavera eu serei visível nas copas e na capoeira...


Rosa-dos-ventos chegou, veio indicar a direção do Infinito
Trouxe consigo a vitória, pra acordar o mundo do sono profundo;
E interveio o Vento pra mudar o rumo da história, trouxe novas cores na aquarela...
Rosinha brincava na plantação de morangos, ela viu o pássaro azul;

O nunca-antes-visto aroma-de-vida-nova, com gosto de Nova-Erva
O bálsamo no ar presente como alma excelsa, ou aparição de anjo altíssimo,
A prosperidade e afortunada bem-aventurança, na formosura das asas-de-fada,
Pressentiram todos os que juntos miraram o futuro,
 de mãos dadas entre as estrelas

E as crianças crescem sempre; quando chegarmos
guardaremos a chave a sete chaves
E os campos em flor cantam aleluias ao milagre do Sol;
e na saliva a seiva sacia a sede,
Salve os sãos! e que os insanos alcancem o fogo que procuram.
Entrego esta oração à Divina Criança, que corre com o vento no Vale da boa-ventura.



Era uma vez o Biruta,
Era lunático e, ainda assim, lúcido.
Aonde quer que soprasse o vento, ia.
Mudava com as fases da Lua;
Era Filho do Fruto a bendita cria.

Tiago Abreu